Archive for the 'Memória' Category

Livrarias

maio 1, 2010

Este post é um presentinho virtual para minha amiga Sibele Fausto, que me ofereceu um livro em 100% das vezes que nos encontramos. Dedico, também, a outros tantos amigos que gostam de livros.

Eu não consigo deixar de reparar nas livrarias que encontro pelos caminhos. Estas são fotos de livrarias muito especiais. Todas em terras onde se fala Português.

Livraria Lello & Irmão, Oporto, Portugal

Livraria Barateira, Lisboa, Portugal

Livraria Eperança, Funchal, Ilha da Madeira, Portugal

Livrarias são os poucos lugares do mundo onde penso que gostaria de ser rica.

Brasília em agosto

agosto 12, 2008

Adoro Brasília. Ao contrário de todas as pessoas que conheço fora do Planalto Central. Uma amiga me enviou um texto que é o retrato da cidade nesta época do ano. Não resisti e decidi publicá-lo aqui, para desfrute dos meus milhares de leitores.

Brasília em agosto, por Conceição Freitas

Brasília de agosto não é pra qualquer um. Pra ser brasiliense do peito, é preciso ter o fôlego e a resistência dos povos do deserto pra enfrentar o sol de agosto sem perder a suavidade. Pra sair de casa antes do sol nascer e cobrir os sapatos com saco plástico pra conseguir mantê-los razoavelmente limpos e lustrados até chegar no trabalho. Pra esperar o ônibus em pontos de ônibus desmazelados, pra atravessar as longas vias e os imensos canteiros sem uma árvore pra nos proteger. Pra enfrentar o sol que tortura nossos olhos.
Brasília de agosto é toalha molhada na cabeceira da cama, é sentir faltar o ar na madrugada, é tomar cerveja e morrer de ressaca por conta da falta de umidade que nos rouba os líquidos. É ter a pele trincada, os pelos ariscos, é saber que não vai chover tão cedo e que não há nada que mude isso. Pouco importa se aqui é a sede do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, das maracutaias, dos lobbies, dos grampos, dos interesses escusos, dos poderosos em geral.
Se é cidade planejada, se é patrimônio da humanidade. Nada disso muda o clima. Estamos todos subjugados à secura, inapelavelmente.
Brasília de agosto é de uma beleza avassaladora que existe, graças aos céus, para além das miudezas dos homens. É uma cidade transparente, reluzente e desnuda. Brasília de agosto não guarda segredo de ninguém, expõe as tripas de todos nós, nos deixa nus de alma sob o sol invasivo e impudico. Não tente ser melancólico em agosto em Brasília porque não vai encontrar nenhum lugarzinho pra se esconder da devassa. Ninguém consegue se esconder sob o céu devastador de Brasília.
É linda a Brasília de agosto. As árvores nuas de folhas e de frutos, galhos desenhando uma arquitetura ao mesmo tempo limpa e intrincada.
Caliandras esplendorosamente vermelhas brotando na secura improvável. Ipês estourando de amarelo, paineiras fazendo colchões de paina no chão. Lacerdinhas enroscando a poeira do chão ao mais alto do céu.
Nenhuma sombra, nenhum esconderijo, nenhum descanso. Brasília de agosto é a alma escancarada.
Uma fagulha que seja se transforma num grande incêndio. Brasília de agosto entra em combustão, explode, venta raivosamente, grita, esperneia, mostra que não há poder maior que o seu. Avisa que todo e qualquer outro poder que aqui se instala e nos ilude é vão diante da força da natureza que é Brasília no período de seca.
Brasília de agosto entra em setembro, se banha de cinza, nos suja de poeira, faz a gente pedir perdão para os crimes que cometemos, os que não cometemos e os que ainda vamos cometer. Brasília de agosto nventa
uma nova dimensão. Expande o espaço físico, faz a arquitetura moderna dançar aos nossos olhos. Deixa o asfalto ondulante, a grama amarela, quase raivosa, as árvores arredias e os homens espantados diante de
tanta força da natureza.
Portanto, fujam os medrosos porque em agosto Brasília não perdoa os hesitantes, os omissos, os titubeantes. Brasília em agosto, com a licença de Euclides da Cunha, é para os fortes.