Os livros de que mais gosto estão em branco. São aquelas cadernetas Molesquine de capa preta e elástico, que segundo a propaganda, eram usados por Hemingway, Picasso e alguns outros ícones da literatura ou do desenho mundial. Mas não é só por causa dos Molesquines e outros cadernos ou livros em branco que entro nas livrarias. Quando posso, entro em todas as que vejo. Gosto de olhar o que está em destaque, como as obras são organizadas, quais áreas atraem mais gente. Dou uma espiada nas novidades sobre comunicação e televisão e nos best-sellers que já lí ou que ainda quero ler. Gosto, especialmente, de conhecer as velhas livrarias. Aquelas que são tradição de seu ramo de negócio.
Algumas, como a Livraria Bertrand, de Lisboa, atendem ao público há mais de dois séculos. A loja ao lado, embora com a logomarca modernizada, funciona desde 1732. Ali, no mesmo local, ao pé do largo do Chiado, quase em frente à Cafetaria A Brasileira, por onde circulava Fernando Pessoa. Hoje não circula mais, mas continua lá, imortalizado em bronze.
Outras, fizeram questão de permanecer intactas. Manter tudo como sempre foi e fazer de conta que o tempo não passou, que não mudaram os fregueses e suas necessidades, que ainda se lê como antigamente. Que os livros são a fonte mais importante.
Nessas livrarias, o estoque de livros é apenas um dos itens a levar em consideração. É o passado que funciona como cartão de visitas. O mobiliário, a disposição das estantes, o inusitado da arrumação das obras atraem os visitantes, mesmo que não sejam compradores de livros.
Nesta viagem conheci pelo menos duas livrarias impressionantes.
A primeira, no Porto, lembrou o “cemitério dos livros esquecidos” descrito por Carlos Ruiz Zafón no livro “A Sombra do Vento”. Emocionante homenagem ao poder dos livros. A história se passa na Barcelona franquista, do início do século XX, quando um menino é levado pelo pai a uma biblioteca secreta e labiríntica que funciona como depósito para obras abandonadas pelo mundo. Esquecidas pelos leitores.
A Livraria Lello, se fosse um pouco maior e secreta, seria o próprio cemitério dos livros esquecidos. Confiram nas fotos abaixo.
Só a escada mereceria uma tese de doutorado. Aliás, um ensaio fotográfico sobre a própria casa – com sua inacreditável escada de madeira e piso vermelho – é a obra mais vendida pela livraria Lello. Foi editado em todos os idiomas europeus e custa 20 Euros. Quase 60 Reais.
A outra livraria inusitada que conhecemos é a Livraria Esperança, em Funchal, na Madeira. Único lugar no mundo onde vi os livros expostos um a um. Por todos os lados. Em todas as paredes. Em cada uma das estantes.
O slogan da Livraria Esperança anunciava: uma das maiores livrarias do mundo. Entre e confira. Entramos somente na área de livros infanto-juvenis.
E ficamos boquiabertos.
Está aí o registro do espanto do Fred, para que eu não minta sozinha.